“O feminismo é para todo mundo”

March 27, 2023
#Política

Aproveitando o Mês Internacional da Mulher, trago a recomendação do livro: “O feminismo é para todo mundo”, de bell hooks (em letras minúsculas mesmo, pois a autora preferia por focar em suas ideias, não em sua pessoa).

hooks conta que decidiu escrever esta obra porque sentia a urgência de tornar o ativismo feminista mais acessível e popular, ao invés de um movimento academicista e restrito. Além disso, pretendia também resgatar a essência do feminismo e mostrar como toda a sociedade é beneficiária do movimento.

Deparando-se com a rejeição e a aversão das pessoas quando se apresentava como teórica feminista, junto à constatação de que esses indivíduos não tinham muita base, muito entendimento sobre o movimento - pois o contato com o feminismo vinha de conversas com amigos sobre como o feminismo era ruim e as mulheres dificultariam a vida dos homens -, bell hooks sentiu a urgência de um material que explicasse, sem jargões acadêmicos e palavras difíceis, o que era o feminismo: um movimento para acabar com o sexismo, exploração sexista e opressão.

É extremamente necessário frisar que bell hooks enfatiza que, se o movimento não levar em consideração as mulheres de minorias raciais e da classe proletária, ele se torna excludente. Afinal, o objetivo é acabar com a opressão também, isso significa lutar contra o racismo e a desigualdade social. Não adianta se dizer feminista, estando em uma posição de privilégio, se seu discurso não engloba as mulheres pertencentes às minorias sociais e raciais.

No livro, bell hooks navega por cada camada e tópico de discussão que surge dentro de uma luta antisexista.

Por exemplo, apesar da grande mídia retratar e disseminar que o movimento é anti-homem, a autora afirma que eles são importantes aliados na luta contra a opressão e o sexismo:

“... Homens de todas as idades precisam de ambientes em que sua resistência ao sexismo seja reafirmada e valorizada. Sem ter homens como aliados na luta, o movimento feminista não vai progredir.” “... O feminismo é antissexismo”.

Lógico que conhecendo a genialidade de bell hooks, eu já esperava que ela me desse instrumentos para refletir e enfrentar os meus próprios preceitos, mas o tanto que eu questiono a minha abordagem em torno do feminismo realmente foi de grande clareza, me dando esperança e uma nova perspectiva sobre a percepção de que um aliado ciente de seus privilégios mas disposto a aderir à causa feminista é uma adição importante.

O tempo todo eu me via transportada para certos momentos da minha vida onde eu me sentia muito pequena, e os momentos onde eu compartilhava essas experiências com minhas amigas, recebendo delas respostas de situações irritantemente semelhantes.

A opressão sexista não descansa em aterrorizar a mulher, não importando seu endereço. Outro trecho que ressonou em mim, pessoalmente, foi o seguinte:

“Ainda que multidões de mulheres tenham entrado no mercado de trabalho, ainda que várias mulheres sejam chefes e arrimo de família, a noção de vida doméstica que ainda domina o imaginário da nação é a de que a lógica da dominação masculina está intacta, seja o homem presente em casa ou não.”

A identificação com esse trecho vem de vivência pessoal, da convivência com as pessoas ao meu redor e de uma sensação de indignação, como se a vida da mulher estivesse condicionada a um homem, mesmo ele não estando ali.

A indignação é, também, sobre essa recusa de grande parte da sociedade em aceitar a ideia radical de que a mulher é um indivíduo, uma pessoa. Sua individualidade deve ser respeitada. Não é um pedido absurdo, não é o início do fim da civilização.

Seria impossível, para mim, dissecar esse livro e todas as suas importantes estratégias para um futuro melhor. Por isso, se você é uma pessoa que acredita em um mundo onde a mulher é tratada com a dignidade que lhe é de direito, eu lhe recomendo essa leitura.

Tudo o que citei aqui foi, no máximo, 10% do conteúdo desse livro, que é imprescindível para um futuro menos sombrio. Que o 08 de março seja, também, data para o início do fim da exploração, do racismo e das injustiças em geral.